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18 de Abril de 2024

Modelo é solta 2 anos após prisão por roubo em SP que ela nega: 'Fui reconhecida como a criminosa negra do cabelo cacheado'

Condenada por assalto a mão armada de carro e joias, Babiy Querino foi solta pela Justiça para cumprir restante da pena pelo crime. Polícia informou que investigou caso e o relatou.

há 5 anos

A modelo e dançarina Bárbara Querino de Oliveira, condenada a 5 anos e 4 meses de prisão por assalto a mão armada, ficou quase dois anos presa em São Paulo por um roubo que sempre negou ter cometido.

Babiy Querino, como a jovem de 21 anos é conhecida profissionalmente, alega que sofreu 'racismo' quando foi presa pela polícia como assaltante e depois acabou condenada na Justiça pelo crime.

Ela conta que, na verdade, foi confundida com uma criminosa somente porque a suposta mulher da quadrilha seria negra como ela e teria cabelos cacheados como os que ainda usa. A modelo apresenta ainda o álibi de que estava participando de um vídeo clipe no litoral no mesmo dia em que o assalto foi cometido na capital.

“Fiquei 1 ano e oito meses presa injustamente porque fui reconhecida como a criminosa negra do cabelo cacheado”, conta Babiy. "Eu não participei do assalto. Fotos e vídeos postados nas redes sociais mostram que eu estava trabalhando em Guarujá na data do crime. Participava de uma sessão de fotos e vídeos com outras garotas."

Mas mesmo assim Babiy foi condenada. Ficou presa de 16 de janeiro de 2018 a 10 de setembro de 2019 no Centro de Progressão Penitenciária (CPP) no Butantã, Zona Oeste da capital. Foi 1 ano e 8 meses atrás das grades. Só saiu de lá no mês passado porque completou dois sextos da pena. Atualmente cumprirá o restante da condenação em regime aberto, como determina a lei.

A luta da modelo agora é tentar provar na Justiça de que foi mesmo vítima de um erro das autoridades. A defesa dela pretende entrar com pedidos contra a condenação, alegando que Babiy é inocente. O caso repercutiu no ano passado, quando mobilizou redes sociais, com manifestações de apoio a jovem e pedidos por sua liberdade.

O que dizem

Quando foi procurada em 2018 para comentar a prisão da modelo, a assessoria de imprensa da Secretaria da Segurança Pública (SSP) informou ao que "investigou o caso e as provas testemunhais e periciais foram anexadas ao inquérito, que foi relatado".

Ainda no ano passado, a comunicação do Tribunal de Justiça (TJ) informou à reportagem que "não se manifesta sobre questões jurisdicionais".

Em agosto deste ano, a ONG Innocence Project Brasil criticou o método de reconhecimento de suspeitos de crimes no país. O índice global do reconhecimento como uma das causas que levaram ao erro judicial, nos casos em que o condenado era inocente, é de quase 70%, de acordo com a organização.

"E em 86% dos casos de roubo a mão armada houve um reconhecimento equivocado na origem daquele processo", diz a diretora da ONG, Dora Cavalcanti.

Além de procedimentos de reconhecimento feitos de maneira incorreta pelas polícias, há ainda o peso que é dado para esse tipo de prova pela Justiça brasileira. Há cerca de dois meses, o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou uma condenação judicial que se baseava exclusivamente em reconhecimento fotográfico.

Reconhecimento

No caso de Babiy, o reconhecimento dela foi feito pelas vítimas do roubo: um casal de publicitários. O crime ocorreu em 10 de setembro de 2017, quando o homem e a mulher estavam com a filha criança em um carro parado no semáforo da Rua Beltis, no Jardim Marajoara, Zona Sul da capital.

Segundo eles, os criminosos armados abordaram o veículo e roubaram, além do Honda Civic, celulares, cartões bancários, joias e objetos de grife do casal, como carteiras e bolsas da Gucci e Prada. As três vítimas não se feriram. Também não recuperaram os bens.

Dois meses depois do assalto, as vítimas, que inicialmente disseram à polícia não ter visto o rosto dos criminosos e tinham dito que todos eram homens, olharam fotos de Babiy, do irmão dela e do primo deles, e de mais dois suspeitos na delegacia.

O casal reconheceu as fotografias das cinco pessoas tiradas por policiais e que circulavam em grupos de WhatsApp e Facebook que as apontavam como membros da quadrilha "Piratas do Asfalto".

Questionada à época sobre a divulgação das fotos nas redes sociais, a Secretaria da Segurança Pública informou "não haver nos registros qualquer informação sobre vazamentos de eventuais fotografias".

O irmão de Babiy assumiu o roubo com os outros dois rapazes, mas negou o envolvimento e a participação da modelo e do primo no crime. Mesmo assim, os cinco foram condenados pela Justiça, inclusive Babiy. Cada um deles recebeu a mesma pena de 5 anos e 4 meses de prisão por assalto a mão armada.

'Racismo'

“Mas não cometi esse crime. Não é porque um faz que o outro tem que fazer”, disse Babiy sobre o irmão e os comparsas dele. “Foi um racismo muito forte contra mim. Meu cabelo é cacheado, e o fato de ser negra e morar na periferia pesou para me culparem também por algo que não fiz.”

O irmão e o primo de Babiy e mais outros dois rapazes ainda foram condenados a mais 10 anos de prisão porque acabaram acusados de outro roubo com arma, dessa vez a três veículos, em 4 de novembro de 2017.

Na prisão, a modelo se lembra do período em que conviveu com outras presas. E mesmo em regime aberto, ela ainda se sente atrás de grades.

“Fazia unhas e sobrancelhas das meninas presas. Dei aula de danças lá dentro”, lembra a jovem, que terá de cumprir medidas restritivas para manter o benefícios. "Estou em liberdade, mas é como se eu estivesse presa. Não posso sair de São Paulo e tenho que ficar recolhida após as 22h.”

Além disso, a cada dois meses será obrigada a comunicar quais foram suas atividades profissionais à Justiça. “O lado bom disso tudo são os convites que tenho recebido para dançar após ter sido solta”, disse, sobre as participações que fez nos shows da cantora Ana Cañas e da rapper Drik Barbosa.

Defesa da modelo

O advogado de Babiy, Flávio Campos, já pediu para o Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP) rever a decisão do juiz que condenou a modelo pelo roubo. Até a publicação desta reportagem ainda não havia uma decisão.

“Estou pedindo a anulação da sentença de condenação porque minha cliente é inocente”, diz Flávio, que também é negro e aceitou defender Babiy gratuitamente. " Ela fotograva no litoral no dia do crime. "

Além dele, outras pessoas ligadas a movimentos afro e artistas negros têm dado apoio à modelo. O ator Lázaro Ramos, por exemplo, enviou o livro dele, " Na Minha Pele ", para Babiy quando ela ainda estava presa. “Li do início ao fim me identificando com o preconceito que existe contra o negro”, conta.

“O lado ruim de estar presa é que você quer sair e voar, mas não pode. Você fica revoltada. Isso mudou a minha visão da sociedade em si. Estou sendo muito mais cautelosa e observadora”, lembra Babiy, que agradece ao incentivo que tem tido a ponto e se declara também uma ativista pelos direitos dos negros. "Uma galera me ajuda. Uma galera se mobilizou por minha causa. Tinha a galera que me conhecia antes de ser presa. Agora conheci gente nova e estou participando de reuniões, projetos.”

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Fonte: G1

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