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19 de Abril de 2024

Supremo julga constitucionalidade do ensino domiciliar no Brasil

A disputa coloca em lados opostos pais que desejam educar seus filhos em casa e o Poder Público que defende a obrigatoriedade da matrícula e a frequência escolar de crianças e adolescente.

há 6 anos

O Supremo Tribunal Federal (STF) julgou, na quinta-feira (30/8), a constitucionalidade do ensino domiciliar no Brasil. Desde 2015, o tema aguarda uma determinação da Corte. A disputa coloca em lados opostos pais que desejam educar seus filhos em casa e o Poder Público que defende a obrigatoriedade da matrícula e a frequência escolar de crianças e adolescentes. O relator do caso é o ministro Luís Roberto Barroso.

De acordo com Associação Nacional de Educação Domiciliar (Aned), o número de famílias que optam pela educação em casa, prática conhecida como homeschooling, tem crescido no Brasil. Em 2018 chegou a 7,5 mil famílias, mais que o dobro das 3,2 mil famílias identificadas em 2016. A estimativa é que 15 mil crianças recebam educação domiciliar no país atualmente.

O julgamento no Supremo deve definir um entendimento único para todos os casos desse tipo que tramitam na Justiça Brasileira, estabelecendo o que o tribunal chama de tese de repercussão geral.

Histórico

O caso que será julgado em plenário e servirá de parâmetro para os demais foi levado ao Supremo pelo microempresário Moisés Dias e sua mulher, Neridiana Dias. Em 2011, o casal decidiu tirar a filha de 11 anos da escola pública em que estudava no município de Canela (RS), a aproximadamente 110 km de Porto Alegre, e passar a educá-la por conta própria.

Eles alegaram que a metodologia da escola municipal não era adequada por misturar, na mesma sala, alunos de diferentes séries e idades, fugindo do que consideravam um “critério ideal de sociabilidade". O casal disse que queria afastar sua filha de uma educação sexual antecipada por influência do convívio com colegas mais velhos.

A família argumenta ainda que, por ser cristã, acredita no criacionismo – crença segundo a qual o homem foi criado por Deus à sua semelhança – e por isso “não aceita viável ou crível que os homens tenham evoluído de um macaco, como insiste a Teoria Evolucionista [de Charles Darwin]”, que é ensinada na escola.

Em resposta, a família recebeu um comunicado da Secretaria de Educação de Canela ordenando a “imediata matrícula” da menina em uma escola. O Conselho Municipal de Educação também deu parecer contra o ensino domiciliar, “por não se encontrar regulamentado no Brasil”.

O casal recorreu à Justiça, mas teve negado um mandado de segurança em primeira e segunda instâncias. Em sua sentença, o Juiz Franklin de Oliveira Neto, titular da Comarca de Canela, escreveu que a escola é “ambiente de socialização essencial” e que privar uma criança do contato com as demais prejudica sua capacidade de convívio.

“O mundo não é feito de iguais”, escreveu o Juiz. “Uma criança que venha a ser privada desse contato possivelmente terá dificuldades de aceitar o que lhe é diferente. Não terá tolerância com pensamentos e condutas distintos dos seus”.

Diversidade na escola

Para a Advocacia-Geral da União (AGU), as Normas Brasileiras estabelecem que a educação deve ser oferecida de forma gratuita e obrigatória pelo Poder Público.

“É muito importante destacar que a escola possibilita um aprendizado muito mais amplo que aquele que poderia ser proporcionado pelos pais, no âmbito domiciliar, por maiores que sejam os esforços envidados pela família. Isso porque ela prepara o indivíduo para situações com as quais inevitavelmente haverá de conviver fora do seio familiar, além de qualificá-lo para o trabalho”, diz a AGU.

Para a instituição, nenhum núcleo familiar será capaz de propiciar à criança ou ao adolescente o convívio com tamanha diversidade cultural, como é próprio dos ambientes escolares."Sendo assim. a escola é indispensável para o pleno exercício da cidadania”, acrescenta.

De acordo com a Procuradoria-Geral da República, a educação familiar não encontra amparo na Constituição. “A utilização de instrumentos e métodos de ensino domiciliar para crianças e adolescentes em idade escolar, em substituição à educação em estabelecimentos escolares, por opção dos pais ou responsáveis, não encontra fundamento próprio na Constituição Federal".

Há oito anos, o Conselho Nacional de Educação (CNE) emitiu um parecer orientando que as crianças e os adolescentes sejam matriculados em escolas devidamente autorizadas. O CNE também entende que a legislação vigente enfatiza “a importância da troca de experiências, do exercício da tolerância recíproca, não sob o controle dos pais, mas no convívio das salas de aula, dos corredores escolares, dos espaços de recreio, nas excursões em grupo fora da escola, na organização de atividades esportivas, literárias ou de sociabilidade, que demandam mais que os irmãos apenas, para que reproduzam a sociedade, onde a cidadania será exercida”.

Direito à dignidade

Na avaliação das famílias favoráveis ao homeschooling, a educação domiciliar garante o direito à dignidade e ao respeito, assegurando uma educação mais individualizada e, portanto, mais efetiva.

“Mesmo nas melhores escolas, a educação necessariamente é provida de forma massificada, sem atentar para as necessidades específicas de cada criança e sem prover a elas as técnicas, os instrumentos e as metodologias do ensino-aprendizagem mais adequadas e qualificadas ao tempo presente”, diz a Aned.
“Estamos buscando a autonomia educacional da família, não somos antiescola, não estamos lutando contra escola, apenas somos a família buscando uma nova opção que, no nosso entender, é melhor para o nosso filho”, diz o presidente da Aned, Rick Dias.

Ele conta que tirou os filhos da escola há oito anos, quando a mais velha tinha 12 anos e o mais novo, 9. Hoje, a mais velha cursa relações internacionais em uma universidade particular. “Não cremos que o Estado deva definir como devemos educar nossos filhos”.

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Fonte: Correio Braziliense

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20 Comentários

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O argumento de que a escola propicia um “ambiente de socialização essencial"e que"privar uma criança do contato com as demais prejudica sua capacidade de convívio" não faz muito sentido.

O fato da criança ser educada em casa pelos pais em nada impede que ela se envolva em outras atividades onde, inevitavelmente, terá contato com outros indivíduos e ideias. continuar lendo

Exatamente, Matheus. O problema foi a justificativa dos pais que foi ridícula. continuar lendo

Há que se avaliar se está em jogo a efetiva educação da criança - e nisso o Brasil está em péssimas condições em rankings mundiais, devendo-se permitir aos pais que tenham qualificação técnica optar se pretendem lançar seus filhos em ambientes hostis, observe-se o apontado pela Leyla em seu comentário, em que possam sofrer bullying (há escolas públicas e particulares em que isso é uma realidade) ou se o que está em jogo é uma questão de convivência social - e nisso anda mal o Estado em querer teimar a todo custo em forçar socializações forçadas - se uma família desenvolve valores religiosos e quer passá-los aos filhos, isso é uma manifestação legítima do direito de educação dos filhos - é sim, opção dos pais, escolherem se querem que seus filhos sejam imersos em ambientes de permissividade com drogas ou violência, por exemplo. O fato do Estado ser laico, por exemplo, não pode implicar em proibição para que famílias sigam religiões e iniciem seus filhos nas mesmas, inclusive indicando colégios vocacionados para tanto, do mesmo modo, não se pode pretender impor ideologias partidárias em salas de aula, é direito dos pais, optarem por colégios militares, por ensino religioso, por madraçais ideológicos (se o pai acha que seu posicionamento é correto é quer formar seu filho desse modo, que o faça) ou até mesmo, se tiver qualificação e a criança tenha condições de se formar em exames aplicados pelo governo, é direito dos pais optarem pelo homeschooling - não parece correto, num Estado de Direito, em que o Estado queira se imiscuir até nisso - se os interesses da criança não forem prejudicados, com exames regulares, com correção de desvios de formação, deve imperar a regra da liberdade de criação, de passagem de valores e crenças. Mas isso gera para o Estado ou para aqueles que queiram impor uma ideologia, uma série de medos e angústias, de modo que espero ser ferozmente combatido, agora que expus minha opinião sobre o tema - respeitarei, obviamente, quem de mim discordar. Abraço em todos. continuar lendo

Concordo plenamente!
É de uma estupidez infundada o Estado proibir que os pais - aqueles que possuem o maior interesse na educação de seus filhos - possam propiciar a educação que desejarem a seus filhos, inclusive amoldando-as às peculiaridades deles (quem conhece melhor os filhos do que os pais?). Acrescentando, o Brasil possui um histórico de incompetência inquestionável no quesito educação (atualmente: 63ª posição em ciências, na 59ª em leitura e na 66ª colocação em matemática)¹, ao passo que o homeschooling, estatisticamente, apresenta relevantes índices de eficiência em relação à educação "tradicional"² (poderia citar outros inúmeros). Considerando tudo isso e, ainda, a proposta de fiscalização do Estado aos estudantes no regime de homeschooling, conforme consta no voto do relator Min. Barroso, haveria apenas um motivo para barrar essa proposta: fatores ideológicos, visto que da ótica da eficiência e da liberdade não haveria outra resposta senão o deferimento dessa modalidade de ensino.

¹ https://cfa.org.br/brasil-cai-em-ranking-mundial-de-educacao-em-ciencias-leituraematematica/
² http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-73072017000200085 continuar lendo

Sou educadora e hoje penso seriamente sobre os benefícios da desescolarização, quanto mais quando a família não tem condições de escolher a escola do filho e fica refém da escola pública, instrumento oficial, ainda que se diga o contrário, de massificação e DESqualificação do conhecimento. Infelizmente as boas escolas públicas são exceções hoje. Geralmente são instituições com ensino enfadonho, que pouco ou nada motiva, tolhendo a criatividade e promovendo uma igualdade medida bemmmm por baixo. Os professores ou estão cansados ou acomodados, a estrutura física é precária, o conteúdo é raso. Sequer visita a um museu a escola promove, e tira 5 ou mais horas diárias da criança, 7 a 8 se contarmos o deslocamento, para que alunos sejam aglomerados e obrigados a participar de atividades desinteressantes e pouco aplicáveis. A socialização é algo que ainda vale a pena, mas também é algo sobre o que se deve estar atento, pois uma vez não haver estímulo à boa criatividade, muito do que nenhum pai deseja se aprende também na escola com relação a vícios e outras mazelas. Enfim, já há uma parcela considerável da sociedade que defende e pratica de forma responsável e positiva a educação domiciliar, sendo importante observar mais de perto em que esse modelo de educação pode contribuir para melhorar os índices tão negativos da educação nacional. continuar lendo

Concordo em gênero, número e grau Anamartha. Abraço continuar lendo

Ler um comentário de uma professora nesse sentido eh estarrecedor. E o pior eh que tem razão. A escola eh uma doença. Tão preocupado com socialização do que com aprendizado. Socializa na igreja ué. Escola eh pra aprender. continuar lendo

Só porque não concordo com a justificativa dos pais da criança, não quer dizer que sua alegação seja ridícula. Cada um tem uma crença e devemos respeitar. continuar lendo

Verdade, achar ridícula a crença e escolha pessoal de alguém é falta de respeito. E o que a questão pede é justamente o contrário, que sejam consideradas as necessidades e escolhas que divergem da determinação do Estado de que só ele detém a educação acadêmica. Quanto mais quando a educação oferecida pelo governo vai de mal a pior. continuar lendo

Sou a favor de educar as crianças em casa, porque nas escolas públicas as crianças estão sem segurança, tem um monte de delinquentes usando drogas, agredindo as crianças e funcionários e nenhuma autoridade toma providência. Além de que o ensino brasileiro está um fracasso, as crianças e jovens estão aprendendo 40% menos do conteúdo que deveria segundo informações do próprio ministério da educação, sem contar que quando se coloca uma criança na escola particular é somente pelo ambiente diferenciado e maior controle, porque as lições de casa eles não conseguem desenvolver sozinhos e a mãe ou o responsável tem que ajudar, oras, se os pais tem que ajudar nos deveres porque o professor não foi capaz de ensinar lhes, então que os pais ensinem seus filhos em casa é o governo que aplique uma prova anual para controlar esse ensino. Essa história de privar as crianças de convívio social é balela, ninguém é obrigado a sair do conforto de seu lar para ficar convivendo com delinquentes , viciados e traficantes que atuam dentro das escolas. Isso não trás benefício nenhum as crianças, muito pelo contrário, vai induzir las a esse tipo de comportamento.
Eu também gostaria de poder privar meus filhos destas pessoas, porque todos os dias tenho que ficar conversando e explicando para meu neto de 10 anos o que deve ou não fazer na escola, com quem pode ou não se relacionar, além de tentar entender como uma professora de 4º ano fica falando para crianças de 10 anos sobre corrupção política, se nem ela soube esclarecer e eu tive que explicar para uma criança esse assunto desagradável e dizer que as pessoas não são confiáveis ,traiçoeiras e mau caráter. Está muito difícil cuidar e controlar para que se forme cidadoes neste Brasil. continuar lendo

Concordo que os pais realmente precisam reensinar em casa o que não ensinam na escola. Isso tem sido muito comum em todos os níveis de ensino, na escola pública também. Além do péssimo ambiente, tanto físico como moral. Mas não se pode avaliar com radicalismo, nem de um lado nem de outro. Que o bom senso prevaleça. continuar lendo