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23 de Abril de 2024

"Ameaça espiritual" configura crime de extorsão, decide STJ

Mulher foi condenada a seis anos de reclusão por exigir R$ 32 mil de vítima para desfazer 'alguma coisa enterrada no cemitério' contra seus filhos

há 6 anos

Vista do corredor dos gabinetes dos ministros do Superior Tribunal de Justiça. Crédito: Dida Sampaio/ESTADÃO

Em decisão unânime, a Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça considerou que a ameaça de uso de ‘forças espirituais’ para constranger alguém a entregar dinheiro é apta a caracterizar o crime de extorsão – ainda que não tenha havido violência física ou outro tipo de ameaça.

Com esse entendimento, seguindo o voto do relator, ministro Rogerio Schietti Cruz, a turma negou provimento ao recurso de uma mulher condenada por extorsão e estelionato.

O caso ocorreu em São Paulo. De acordo com o processo, a vítima contratou os serviços da acusada para realizar ‘trabalhos espirituais de cura’.

A ré teria induzido a vítima a erro e, por meio de atos de curandeirismo, obtido vantagens financeiras de mais de R$ 15 mil.

Tempos depois, quando a vítima passou a se recusar a dar mais dinheiro, a mulher a ameaçou, segundo o processo.

De acordo com a denúncia do Ministério Público, a acusada pediu R$ 32 mil para desfazer ‘alguma coisa enterrada no cemitério’ contra seus filhos.

Extorsão. A ré foi condenada a seis anos e 24 dias de reclusão, em regime semiaberto. No STJ, a defesa pediu sua absolvição ou a desclassificação das condutas para o crime de curandeirismo, ou ainda a redução da pena e a mudança do regime prisional.

Segundo a defesa, não houve qualquer tipo de grave ameaça ou uso de violência que pudesse caracterizar o crime de extorsão. Tudo não teria passado de ‘algo fantasioso, sem implicar mal grave apto a intimidar o homem médio’.

Para o ministro Rogerio Schietti, no entanto, os fatos narrados no acórdão são suficientes para configurar o crime do artigo 158 do Código Penal.

“A ameaça de mal espiritual, em razão da garantia de liberdade religiosa, não pode ser considerada inidônea ou inacreditável. Para a vítima e boa parte do povo brasileiro, existe a crença na existência de forças sobrenaturais, manifestada em doutrinas e rituais próprios, não havendo falar que são fantasiosas e que nenhuma força possuem para constranger o homem médio. Os meios empregados foram idôneos, tanto que ensejaram a intimidação da vítima, a consumação e o exaurimento da extorsão”, disse o ministro.

Curandeirismo. Em relação à desclassificação das condutas para o crime de curandeirismo, previsto no artigo 284 do Código Penal, o ministro destacou o entendimento do Tribunal de Justiça de São Paulo de que a intenção da acusada era, na verdade, enganar a vítima e não curá-la de alguma doença.

“No curandeirismo, o agente acredita que, com suas fórmulas, poderá resolver problema de saúde da vítima, finalidade não evidenciada na hipótese, em que ficou comprovado, no decorrer da instrução, o objetivo da recorrente de obter vantagem ilícita, de lesar o patrimônio da vítima, ganância não interrompida nem sequer mediante requerimento expresso de interrupção das atividades”, assinalou Schietti.

Pena mantida. O redimensionamento da pena também foi negado pelo relator, que entendeu acertada a decisão da Corte estadual paulista de considerar na dosimetria da pena a exploração da fragilidade da vítima e os prejuízos psicológicos causados.

Foi determinada, ainda, a execução imediata da pena, por aplicação do entendimento do Supremo Tribunal Federal de que seu cumprimento pode se dar logo após a condenação em órgão colegiado na segunda instância.

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Fonte: Estadão

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32 Comentários

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Interessante... me permito uma analogia: quando a pena é ir para o inferno e a salvação reside em adorar algum Deus, ir nos seus cultos e pagar dinheiro, qual é a diferença? continuar lendo

Me pergunto a mesma coisa. Quando dizem que Deus recomenda dar 10% para a igreja, isso é extorção? Usar o nome de "alguém" para fazer com que a pessoa doe dinheiro não é um tipo de extorsão? Principalmente se esse "alguém" nem possa ser consultado.... continuar lendo

bom ponto a ser analisado continuar lendo

Vejo com melhores olhos o dízimo entregue deliberadamente do que a absorção do patrimônio privado promovida pelo Estado sob coação, Bruno da Silva João, continuar lendo

O dizimo em si, não seria uma má ideia, na teoria é tambem uma prova de fé, daquele que dá... e a igreja que deveria ser como instituicao beneficente, pois se usassem o dizimo para ajudar os necessitados. e usar dos recursos para benefícios dos proprios membros. ... seria mil maravilha.......agora tudo o que foge disso, todo esse dinheiro tirado dos fieis ,para conforto de seus lideres acredito que isso sim é má fé.... e deveriam ser fiscalizados...o problema que estado nao da conta nem dos problemas ja existentes, agora imagina se tivesse que fiscalizar tambem as instituicoes religiosas... continuar lendo

Eu adoro o Senhor Deus, vou aos cultos e não paga nada para isso, Graças a Deus.
Onde congrego não há ninguém que ganha salário para pregar o Evangelho.
E ir aos cultos não é nenhum inferno, já que antes eu tomava cachaça, adulterava e mentia, e graças a Ele saí desse sistema... continuar lendo

A diferença está na liberdade. Coação, é outra coisa, é o oposto. Oxi, eu pensava que isso fosse tão claro como água cristalina. Ledo engano o meu. continuar lendo

A liberdade religiosa é princípio constitucional, não entrando em conflito com seu apontamento, @kirkadv continuar lendo

@christinam Que liberdade? Consegue deixar de acreditar em Deus por um minuto, para acreditar em Brâman? É claro que pode acreditar em um ou outro, seguir uma ou outra religião. Mas uma coisa é estar livre para praticar, outra coisa é estar livre para acreditar.

A diferença in casu é o agente. No cristianismo, quem pratica todas essas ameaças é o próprio Deus. Padres e pastores não têm agência sobre elas. No caso deste processo, quem pratica a ameaça e tem a capacidade de "concretizá-la" é a mulher. Não podemos julgar deuses; não por uma questão ética (eu poderia dizer que Zeus é um cafajeste, por exemplo), mas por uma questão fática.

Entretanto, deve-se discutir até onde pode ir essa relativização da realidade. Será que os escravizados da Operação Canaã poderiam permanecer naquela situação, se acreditassem de coração que era este o desejo divino? continuar lendo

Talvez a grande diferença, é que nesse último caso, até o juiz acredita, na baboseira. continuar lendo

Pobre povo Brasileiro.. É cada uma que me aparece por aqui..
O povo peca por falta de conhecimento bíblico. Deus não precisa do nosso vil dinheiro. :( continuar lendo

vc conhece alguma instituição que tenha que ter espaco pra menbros, veículos, e etc, que nao necessite de dinheiro???? agora é claro que muitos pastores se aproveitam disso... continuar lendo

Reinaldo conheço grupo de pessoas que se reúnem cada semana na casa de um para falar sobre a bíblia, filosofia, ética e Deus. Eles não necessitam de dinheiro e se dizem teístas sem religião. O valor que seria de um "dízimo" vai para doação à pessoas necessitadas. E doa quem quer.
Acredito que é possível sim ter fé espiritual sem dinheiro. continuar lendo

Se analisarmos de forma histórica a origem das religiões principalmente as teístas, você percebe uma intenção subjetiva que visa o domínio moral. E para que essa moral funcione é necessário impor o medo, que é o grande responsável por lotar igrejas, o medo na figura do "diabo", "pecado", "punição", "redenção", palavras que manipulam e controlam pessoas. continuar lendo

Concordo. Eu mesma me preocupo (por livre e espontânea vontade/medo) rsrsrs... Não ligo. Eu sei que no final, todos morremos. Se eu estiver errada, não vou me importar. Eu nem sequer existirei. Mas... Se eu estiver certa, estarei tranquila. Não vou precisar me arrepender na hora da morte. kkkkkkkkkkkkk continuar lendo

Perfeito, Erik. E há provas materiais desta intimidação praticada em muitas da ditas "igrejas" "evangélicas" em vídeos e pronunciamentos dos ditos "pastores".

O Raul Nunziato talvez esteja se referindo à igrejinha perto de casa, entendo que católica ou protestante; em "templos" "evangélicos" é possível que haja alguma exceção, eu não conheço. Talvez, além dos vídeos e pronunciamentos relativos a estes - para mim - delinquentes, sugiro que ele vá a algum destes, sem pedri para enviar e-mail informando a data da visita... rs rs continuar lendo

Erick, será mesmo que impõe-se o medo? Acredito que antes do medo seria uma tentativa de convívio pacífico entre as pessoas. Se mesmo com as religiões já tem tanta violência. Acho que sem religião a situação atual seria bem pior. continuar lendo

Uns comem carne, outros comem vegetais , uns são cegos, outros são surdos e outros tiram proveito de ambos : ....... continuar lendo