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24 de Abril de 2024

É correto dar prisão domiciliar às presas provisórias grávidas e mães?

há 6 anos

A radicalidade da decisão encheu alguns de felicidade, e outros, de revolta. O Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, no fim de terça-feira (20/2), conceder prisão domiciliar a todas as presas grávidas e com filhos até 12 anos que estavam aguardando julgamento em regime fechado. A resolução repercutirá na vida de 4,5 mil mulheres e de milhares de crianças.

E ela é excelente e deve ser celebrada. Para muitos, existe a preocupação de que a decisão acabe incentivando presidiárias a engravidarem ou se converta em prêmio pelo crime. Apesar de justas, essas inquietações não têm respaldo na realidade.

Durante cinco anos pesquisei o sistema carcerário feminino para escrever o livro Presos Que Menstruam. Nesse período, vi mulheres com a mais absoluta incapacidade de engravidar. Sabe por quê? A massa dos parceiros as abandona pouco após a detenção. Como podem gerar um bebê se não há homens dispostos a visitá-las?

Em segundo lugar, a ideia de alguém decidir ter filhos antes de entrar no crime como garantia caso seja encarcerada é, no mínimo, estapafúrdia. Normalmente, a maternidade dessas mulheres acontece sem apoio de um parceiro e isso leva muitas delas ao crime. Um levantamento feito no Rio Grande do Sul há alguns anos mostrou: 40% das presas eram vítimas de violência doméstica antes de entrarem na cadeia. Algumas delas, ao fugir do marido agressor com os filhos, não conseguiam sustentar a casa sozinhas e apelavam ao tráfico como complemento de renda.

Além disso, segundo pesquisadores, 85% das mulheres encarceradas já são mães – quase sempre muito pobres e esperando dar aos filhos condições melhores. Não à toa, a maioria dos crimes que cometem são contra o patrimônio, e não contra a segurança ou a vida de outras pessoas, como é o caso dos homens."

Antes da decisão histórica do STF, uma série de criminosas de pouca periculosidade – baixo clero do tráfico e ladras de supermercado – aguardavam, sem necessidade, seu julgamento em regime fechado. Em tese, no Brasil, pessoas só deveriam ser presas se já condenadas ou quando representam risco à sociedade.

Não é o caso dessas mulheres, mas a lei se faz valer a homens brancos poderosos que cometeram crimes de corrupção, por exemplo. E lembrando: o suplente de deputado Nelson Nahim (PSD-RJ) responde em liberdade pelo crime hediondo de forçar crianças a usarem drogas e fazerem sexo com até 30 homens por dia!

Se me permite forçar sua empatia, vou pedir para você abrir seu coração e me escutar. Até então, nas prisões brasileiras, bebês inocentes dormiam em chãos imundos e celas emboloradas. Gestantes eram obrigadas a parir em solitárias e sobre de sacos de lixo. Quem merece crescer ou ser gerado assim, meu Deus? Você consegue dormir tranquilo sabendo que crianças passam por essa situação nas cadeias do seu país? Essas pequenos não merecem pagar pelos crimes de suas mães. E mesmo as prisioneiras merecem gozar da mesma lei que beneficia os homens poderosos.

Vou finalizar contando a história real de uma mulher magricela, cheia de pontas, que conheci numa prisão do Pará enquanto pesquisava para escrever o livro. Vez ou outra, ela me visita em pesadelos. Chega, como foi na vida, segurando o abdômen ressequido e dizendo:

— Eu, por exemplo, estava grávida. Perdi meu filho faz 10 dias, sangrei feito porco e ninguém fez nada, não vi um médico. Agora, tô aqui cheia de febre. Vai ver o corpinho tá apodrecendo dentro de mim.

E você, concorda com o artigo? Qual o seu pensamento a respeito da decisão? Deixe aqui sua opinião.

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Fonte: Metrópoles

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79 Comentários

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Começa que preso nem deveria ter visita íntima... Segue que um dia também deve ter sido estapafúrdia a ideia de "vou aprontar ao máximo enquanto sou menor, pq não vou responder legalmente por quase nada". Depois desses dois pontos, o resto, sinceramente, nem li. continuar lendo

O título do artigo fala sobre as presas provisórias.
E a idéia de "vou aprontar ao máximo enquanto sou menor, pq não vou responder legalmente por quase nada" não deve ter sido, ainda é estapafúrdia. continuar lendo

É que a fonte é o site metrópoles né, então tá explicado... continuar lendo

Sr. João justamente pelo senhor não ler idéias e FATOS diferentes do que pensa é que se comporta como um neandertal. Aliás se o senhor não sabe é uma espécie humana anterior a atual... continuar lendo

A questão envolve diversos aspectos, que devem ser abordadas sob um olhar crítico.

Em primeiro lugar, prisão é local para sofrimento mesmo, para pagar a pena por um crime cometido contra a sociedade. Não é hotel para se albergar com direito a visita íntima, TV, churrascos e uso de drogas.

Segundo: é odiosa essa discriminação ao contrário entre homens e mulheres. Melhor rasgar a Constituição no que diz respeito a que "Todos são iguais perante a Lei...", porque parece que nos tempos modernos as mulheres perseguem e conseguem ter mais direitos que os homens, seja através de Leis injustas como a tal da Maria da Penha, seja através da que caracteriza o crime de feminicídio, seja através de Leis que as amparam a se aposentar 05 (cinco) anos mais cedo que os homens, etc. Parece que passamos de 1950 para cá a praticar uma inversão de valores. se antes as mulheres não tinham o direito de votar ou até mesmo de trabalhar, hoje são lhes distribuídas benesses que não se justificam perante o preceito constitucional de igualdade de gênero.

Terceiro: Mães no cárcere só existe porque essa justiça BURRA brasileira insiste em só dar a guarda do filho às mães, quando hoje em dia temos pais extremamente habilitados e abnegados para cuidar dos filhos. Basta passar a guarda do filho da detenta ao pai. Se o pai e a mãe forem criminosos recolhidos ao cárcere, sinto muito quanto à criança, mas da mesma forma como se aplicava o antigo testamento de Moisés, os filhos, por uma força maior, que poderíamos chamar de Deus serão, neste caso, responsáveis pelos delitos dos pais e sofrerão suas consequências.

Quarto: Da mesma forma que o tráfico se utiliza de menores para o cometimento de crimes começará a usar mulheres grávidas, visto que a punição é branda. Ora, prisão domiciliar é reprimenda à altura do crime de tráfico, de roubo, por exemplo? A não aplicação da prisão carcerária em casos apenas de violência extrema abre uma brecha enorme na Lei a qual colocará nas ruas milhares de mulheres que se constituem um perigo à sociedade. Vamos parar com essa idéia odiosa de que só bandidos homens são perigosos e mulheres são santas, ok? Hoje os tempos são outros.

Em suma: Uma decisão prejudicial, imoral e inconstitucional! Um salvo conduto para essa mulherada irresponsável cometer crimes "a torto e a direito", com a mesma condescendência criminosa que esse falido Judiciário brasileiro aplica a esses monstrinhos assassinos menores de 18 anos, chamado vulgarmente de "di menor". Um absurdo, uma aberração, a qual me dá vontade de rasgar minha cidadania brasileira e me mudar para um País civilizado qualquer. continuar lendo

permita-me fazer um acréscimo em suas colocações, segundo os números da segurança pública na relação homem X mulher, nas estatísticas criminais, o número de mulheres no crime se elevou vertiginosamente nos últimos anos tendo crescido, percentualmente, muito mais do que o dobro em relação ao de homens, continuar lendo

E a ideia de que o tráfico é um crime que fere as pessoas que decidiram por conta própria se ferir é ridícula. As drogas corroem toda a sociedade, acaba com o familiar do usuário (suicida), com o empregador do mesmo, com os filhos deste, enfim, não é um crime sem vítima, é um crime de grande potencial ofensivo contra toda a sociedade! A mulher se rendeu ao tráfico pq tinha filho pequeno pra criar... pensou ela nos filhos pequenos dos outros que ela acaba de mandar pra forca pra poder 'criar' seu filho? Ela sacrifica os filhos dos usuários para que seu filho possa ter vida. É um paradoxo. Defender que ela possa sacrificar filho dos outros (em número muito maior do que seus próprios filhos) para que suas crias possam ter vida 'digna' é um tanto bizarro. continuar lendo

Marcelo, virei sua fã. Fantásticas ponderações. Concordo com todas. continuar lendo

Caraca! Nunca vi uma pessoa destilar tanto veneno num único comentário. Palpável seu ódio contra esse pseudo-sistema-judiciário-político. Não é uma crítica, mas a sensação era de que quando vc tecia seu comentário, seus dedos corriam desesperadamente pelas teclas do computador, sob um comando rápido de absoluta ojeriza a tudo que foi abordado no texto. Melhoras Dr marcelo continuar lendo

Marcelo, eu iria comentar o texto com pensamento formado, mas quando li suas palavras as quais (1º e 4º) se alinham ao meu, logo me abstive. Concordo plenamente !! continuar lendo

Excelente comentário! Cirúrgico! continuar lendo

Perfeitas colocações! Parabéns!

Só gostaria de acrescentar que não só mulheres grávidas passarão a ser aliciadas pelo narcotráfico, pois o salvo-conduto do STF se estende a todas as mães de filhos até os doze anos de idade!

Para falar a verdade, inúmeras mulheres que ainda se mantinham afastadas do crime, exatamente devido à ameaça de perderem o convívio com seus filhos, agora passaram a ser protegidas por esta decisão "politicamente correta" deste STF que aí está a interpretar a Constituição Federal inspirado na Ideologia da Esquerda.

Vamos ter que sofrer muito até que o STF seja renovado. Aliás, para quem ainda não sabe, medidas democráticas já estão sendo tomadas para que esta renovação ocorra sem que tenhamos que aguardar uma geração.

http://justificando.cartacapital.com.br/2017/07/06/ccj-do-senado-aprova-pec-que-fixa-mandato-de-10-anos-para-ministros-do-stf/ continuar lendo

"bebês inocentes dormiam em chãos imundos e celas emboloradas. Gestantes eram obrigadas a parir em solitárias e sobre de sacos de lixo. Quem merece crescer ou ser gerado assim, meu Deus?"

Quando isso acontece, a culpa não é do juiz, não é do carcereiro, não é da sociedade e nem é minha. A culpa é exclusiva da mãe que, mesmo grávida, pratica crimes, demonstrando que não está nem um pouco preocupada com o futuro da criança. continuar lendo

Virei sua fã. Disse tudo. Não é um ônus q nos cabe. Cabe a mulher sem vergonha q comete crime sem se preocupar se está grávida, ou tem filhos pequenos q precisam dela. continuar lendo

Que vai ter um tanto de oba-oba, nem duvido, mas se para uma mãe em especial a justiça entendeu que mesmo sendo uma das grandes ladras do erário deveria ter essa benesse, justíssimo que seja para todas.
E assim, esvaziamos as cadeias, reduzimos custos e bandido por bandido, 100 mil a mais ou a menos nas ruas, não fará diferença alguma.
Vamos soltar agora todos que estão presos por portar drogas, ok? Todo mundo sabe onde vende e nada de efetivo é feito, portanto, cria-se a conclusão de que não é proibido.
E se não é proibido, é permitido e legal. Ou não? continuar lendo

"100 mil a mais ou a menos nas ruas, não fará diferença alguma." ?!?
Zé Roberto, isso é algo que somente vc pode explicar. É entusiasmo nervoso teu, ironia ou é sério mesmo ? 100 mil é uma cidade. continuar lendo

E a ideia de que o tráfico é um crime que fere as pessoas que decidiram por conta própria se ferir é ridícula. As drogas corroem toda a sociedade, acaba com o familiar do usuário (suicida), com o empregador do mesmo, com os filhos deste, enfim, não é um crime sem vítima, é um crime de grande potencial ofensivo contra toda a sociedade! A mulher se rendeu ao tráfico pq tinha filho pequeno pra criar... pensou ela nos filhos pequenos dos outros que ela acaba de mandar pra forca pra poder 'criar' seu filho? Ela sacrifica os filhos dos usuários para que seu filho possa ter vida. É um paradoxo. Defender que ela possa sacrificar filho dos outros (em número muito maior do que seus próprios filhos) para que suas crias possam ter vida 'digna' é um tanto bizarro.... continuar lendo

Donato
Somos nais de duzentos milhões de brasileiros, e nosso crescimento populacional destaca-se exatamente na população mais carente ou dentro da faixa da miséria.
Quanto tempo precisaremos para produzir mais um milhão de segregados?
Voce acha 100 mil muito?
Não é nada.
Com certeza, uma cidade. continuar lendo

Renan

Vc não entendeu. continuar lendo

Concordo com você, em número e grau. E 100 mil podem ser mais que uma cidade, se reunidos,; espalhados, pelo país afora, não são nada, nada, mesmo. Se a mamãe ricaça não pode degustar uma cana, a pobre, por justo, também não deve poder. Quantos milhares de pobres estão presos (condenados) por porte de ínfima quantidade de droga, enquanto os endinheirados fornecedores estão ativos e soltos? Sistema? Em havendo vontade, uma simples canetada se muda o sistema. A prova está aí. continuar lendo

Isso aí Nelson. continuar lendo

Parabéns, Renan. Coaduno com suas ideias. Ela não merece nada menos q cadeia. E nós, sociedade, não merecemos nada menos q ela purgue seus crimes na cadeia. Mas não. Agora, resolve-se que, mesmo tendo cometido crimes, o fato de parir dá a ela passe livre pelo crime. E as demais tb. Delinqua, mas tenha o cuidado de 'embarrigar' e procriar. A Banânia é uma benção para os bandidos. continuar lendo

Zé Roberto

Vc está colocando a pobreza e a criminalidade na mesma situação como se uma gerasse a outra ?
Creio que não, afinal as diferenças sociais geram mesmo uma sórdida hegemonia nessa sociedade podre de princípios apoiadas no elitismo financeiro com uma classe privilegidada nadando na impunidade, mas isso não significa tbém afrouxar regras á classe menos favorecida. o que vai se ganhar com isso ?
Numa lógica moral, o foco seria endurecer no mesmo plano aos abastados. continuar lendo

Donato:
Não sou eu quem coloca.
São as estatísticas.
A miséria e a ignorância são portas de entrada para a criminalidade, sim.
E entenda bem sobre o que falo. Falo sobre aqueles que lotam as cadeias e os presídios. continuar lendo

Zé Roberto

Pobre não é ladrão. Se existe algo que nunca faltou ao nosso país é a pobreza, mas se eu ainda consigo colocar meu nariz pra fora sem ser roubado, é sinal que as estatisticas de pobreza justificam as da ignorancia, mas não as do crime, pois caminhar juntos não é justificar.
A prefeitura da minha cidade já não executa mais a remoção do mato em frente á minha residencia, porém eu pago pra um rapaz desempregado que me ofereceu o serviço de remoção, além de outros. As opções existem, quem manda é o caráter. continuar lendo

Donato:
Você está distorcendo o que eu disse.
Paro por aqui, porque dessa forma não existe diálogo que resista.
Quem foi que disse que pobre é ladrão?
Se você não consegue entender uma vírgula do que lê, fica difícil.
Nem li o resto que vc escreveu. continuar lendo

Zé Roberto

Pobre não é ladrão é uma afirmação minha. Se vc atribuir tudo á vc realmente fica difícil mesmo, principalmente requerer resistência por diálogo favorável numa situação de debate. continuar lendo

"E assim, esvaziamos as cadeias, reduzimos custos e bandido por bandido, 100 mil a mais ou a menos nas ruas, não fará diferença alguma."

O senhor é louco para afirmar algo dessa natureza? Que insanidade! Se uma dezena de bandidos perigosos já modificam por completo uma cidade, seus índices criminais e sua rotina, imagina uma centena de milhar deles espraiados país afora.

Não sei se de fato trata-se de uma ironia que não consegui captar, mas afirmar seriamente algo assim é assinar atestado de loucura, digno de buscar auxílio médico urgente, eu diria. continuar lendo