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18 de Abril de 2024

José Afonso Pinheiro: o zelador do tríplex

Ele vigiava e cuidava do Condomínio Solaris e viu quando o ex-presidente Lula e Marisa foram visitar o apartamento 164-A. Foi demitido por contar o que sabia. Agora, reconstrói a vida e espera que a Justiça que puniu Lula também o sirva

há 6 anos

"Alô, seu José?”

“Peraí, vou te passar para minha advogada.”

É uma saudação inusitada para um zelador. Mas seu Zé Afonso não é um zelador ordinário. Primeiro porque, de saída, ele pede para derrubar o “seu” e o “Zé” da conversa, títulos máximos da zeladoria brasileira. “Me chama de Afonso” (a reportagem pede desculpas. Por normas internas, não pode atender ao pedido: precisa chamar seu Zé Afonso pelo sobrenome, Pinheiro). Segundo, porque o aposto que o define melhor é o que ele levou para as urnas eletrônicas quando se candidatou a vereador em 2016, em Santos, com o número 11333: Afonso Zelador do Tríplex. O adjetivo de origem no latim é hoje referência geográfica e política. O brasileiro sabe da existência de um apartamento tríplex no Guarujá, litoral paulista, cuja posse é objeto de um dos processos judiciais mais importantes da história do país. Sabe do imbróglio que envolve o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acusado de receber o tríplex e melhorias no imóvel da empreiteira OAS em troca de beneficiá-la em contratos com o governo federal. Sabe que, na quarta-feira, dia 24, os desembargadores do Tribunal Regional da 4ª região não só cofirmaram a condenação de Lula, proferida inicialmente pelo juiz Sergio Moro, como aumentaram sua pena de nove para 12 anos. O brasileiro sabe quem é Pinheiro, o zelador do tríplex.

O que talvez não seja tão óbvio é o motivo para um zelador andar escoltado por uma advogada. Pinheiro foi peça vital no processo que correu na Vara de Moro, em Curitiba. Ele foi testemunha ocular da presença de Lula e de Marisa Letícia no Condomínio Solaris em mais de uma ocasião. Em 23 de outubro de 2015, Pinheiro prestou um depoimento aos promotores Cássio Conserino, Fernando Henrique Araujo e José Carlos Blat no salão de festas do prédio. Disse que Marisa Letícia “chegou a frequentar o espaço comum do edifício indagando sobre o salão de festas, piscina, áreas comuns”. Disse que “os familiares do ex-presidente chegavam em um Passat preto e em um carro prata”, cercados de “três ou quatro” seguranças. Pinheiro narrou como a OAS preparava o Solaris para receber a caravana presidencial, com uma limpeza caprichada e flores, e bloqueava o uso dos elevadores para que a família Lula da Silva não fosse perturbada.

O zelador informou que ninguém mais frequentava o tríplex. Não havia qualquer sinal de que o imóvel estivesse à venda. Um funcionário da OAS chamado Igor “pediu para que (Pinheiro) não falasse nada, ou seja, que o apartamento seria do Lula e da esposa, mas, sim, deveria dizer que é pertencente à OAS. Esse pedido aconteceu depois do Carnaval de 2015”. Em 9 de março de 2016, com base nesse e em outros depoimentos e em documentos e provas, o Ministério Público apresentou denúncia contra o ex-presidente Lula por lavagem de dinheiro e falsidade ideológica na ocultação desse patrimônio. Menos de um mês depois, Pinheiro foi demitido.

Nascido em Missal, no Paraná, a mais de 600 quilômetros de Curitiba, Pinheiro vive no litoral paulista há mais de três décadas. É zelador há duas. E estava no Solaris havia pouco menos de três anos – fora admitido em novembro de 2013. Como todo zelador, morava com a família no próprio Solaris. Ao ser dispensado, perdeu o emprego e o lar, o que deu uma dimensão mais dramática ao olho da rua.

“Certeza que tem a ver com o depoimento que prestei. Depois que falei ao promotor, o pessoal da OAS tentou me constranger, dizendo que eu estava falando mentira. O síndico me mandou não falar mais nada, senão perderia o emprego. Esperaram a poeira baixar e se livraram de mim. A corda sempre estoura para o mais fraco”, disse Pinheiro na ocasião. “Minha família sofreu mais do que eu. É muito ruim uma esposa ver o marido desempregado, sendo humilhado, chamado de mentiroso”, diz Pinheiro.

Os carniceiros da política viram na tragédia de Pinheiro uma oportunidade. Ele foi abordado por membros do Partido Progressista, o PP – o primeiro a responder, no âmbito da Lava Jato, a uma ação em que o Ministério Público pede ressarcimento de R$ 2,3 bilhões ao Erário e por danos morais coletivos. Pinheiro foi convidado para concorrer a um cargo de vereador em Santos. Sem verbas, de caixa um ou dois, Pinheiro partiu para um boca a boca com colegas porteiros e zeladores. Somou 464 votos. “Agradeço muito aos que votaram em mim. Eles acreditaram no que eu dizia e queria fazer”, diz.

Quando Pinheiro depôs, via videoconferência, ao juiz Sergio Moro, em 16 de dezembro de 2016, o advogado de defesa de Lula, Cristiano Zanin Martins, foi agressivo. Antes mesmo de o depoimento começar, Martins pediu que aquele testemunho fosse excluído.

“Vou contraditar a testemunha na medida em que o senhor José Afonso Pinheiro ingressou na política e utiliza como discurso principal da sua candidatura e da sua atividade política fatos que dizem respeito e estão em discussão nessa ação penal”, disse o advogado.

O Ministério Público argumentou que, como outros candidatos, Pinheiro usou um aposto que o identifica – como o “João Motoboy” ou o “Toninho do Açougue”. Moro negou o pedido da defesa de Lula. O promotor fez as primeiras perguntas, aquelas básicas para qualificar a testemunha: nome e profissão. “O senhor trabalhou no Solaris?” “Trabalhei sim, senhor”, respondeu Pinheiro na forma que respondem os acostumados a uma vida de posições subalternas.

“Eu acredito que a Justiça é igual para todos, né? Quer dizer, no meu caso, eu sofri uma humilhação, uma tremenda injustiça”

Na vez de Martins questionar Pinheiro, o advogado retomou a linha de sugerir que a entrada do zelador na política atenderia à eterna e global conspiração contra Lula.

“Você não sabe o que é a pessoa estar desempregada, passando por uma dificuldade terrível... Porque eu fui envolvido numa situação que eu não tenho culpa nenhuma. Eu perdi o meu emprego, a minha moradia. Aí, você vem querer me acusar, falar alguma coisa contra mim? O que você faria numa situação(dessas)? Como é que você sustentaria sua família? Você nunca passou por isso. Quem é você para falar alguma coisa contra mim? Posso falar o que vocês são? Vocês são um bando de lixo! Lixo! O que vocês estão fazendo com o nosso país é coisa de lixo”, disse.

O juiz deixou Pinheiro desabafar para, em seguida, pedir que ele fosse mais objetivo em suas respostas, menos emotivo. Na sentença de 218 páginas em que condenou Lula, em 12 de julho de 2017, Moro recorre ao depoimento de Pinheiro seis vezes, nos pontos 502, 503, 504, 505, 506 e 507.

Vira e mexe alguém aborda Pinheiro na rua para perguntar do tríplex. “Eu lido numa boa, porque só falo a verdade. Eu não falei o que vi para qualquer um, para desconhecidos. Falei para o Ministério Público e para o juiz Moro e sua equipe, que estão colocando o país no rumo certo”, afirma. Na quarta-feira, Pinheiro, que ainda não sabe em quem votar neste ano nem se vai se candidatar novamente, passou o dia trabalhando como zelador no novo condomínio onde mora há mais ou menos um ano, em Santos. Não teve tempo de assistir ao julgamento – só pegou um pedacinho da fala do desembargador Victor Laus, o último a votar pela confirmação da condenação de Lula, completando o placar de 3 a 0.

“Como é que eu vou falar? Eles foram certíssimos, corretos. Foi comprovado que o ex-presidente havia cometido erros. Nada mais justo que tenha uma punição. Eu acredito que a Justiça é igual para todos. Quer dizer, no meu caso, eu sofri uma tremenda injustiça”, diz Pinheiro.

É por isso que ele estava escoltado por sua advogada na manhã de quinta-feira. “Não posso falar, porque está correndo em segredo de Justiça. Mas eu vou deixar a Justiça ver e me reparar devidamente pela injustiça que eu sofri.” Mas que processo misterioso é esse? Pinheiro está processando a OAS, o ex-presidente Lula? “Não posso falar. Mais para a frente a gente conversa”, diz, encerrando a ligação.

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Fonte: Época

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7 Comentários

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E agora? Desmascarada a farsa e as mentiras do zelador, como fica o processo?
O zelador deve ser preso por falso testemunho, calúnia e difamação?. O PP deve ser investigado. Há a possibilidade de ter contratado o zelador para mentir??
Queremos e merecemos respostas... continuar lendo

Eu acredito em Lula e a falecida Dona Marisa disseram sempre a verdade, certamente eles foram conhecer o local a convite de alguém até mesmo da OAS pra resolverem se iriam comprar ou não, segundo sei Lula sempre deu total liberdade de escolhas à esposa. e ela optou por não comprar. e Lula acatou. Sendo ele Presidente do Brasil quem não gostaria de morar ao lado de um homem tão importante? fizeram os corretores dessa suposta venda um meio de divulgação em algo real, ou seja venderiam muito mais rápido dizendo que Lula era um dos proprietários do triplex. Sem duvidas teriam vendas rápidas e certa! Agora a perguntar que não que se calar Lula e Dna. Marisa nunca foram proprietários do Triplex,Quem induziu o Zelador a mentir por conta própria é que não foi. Agora a verdade veio a tona o TRIPLEX NUNCA FOI REFORMADO, CADÊ O TAL ELEVADOR, E CADÊ AQUELA FOTO QUE MOSTRAVA MUITO LUXO NA DECORAÇÃO. TUDO GOLPE, FARSA! PRA INCRIMINAR LULA. continuar lendo

Lula e Marisa eram apenas os decoradores do triplex, por isso visitaram ele durante as reformas e colocação de acabamentos, elevador e mobiliário ... afinal tudo foi pago pela OAS. Eles estavam preparando o imóvel para a Casa Cor SP provavelmente. continuar lendo

Pelo menos um dos maiores bandidos foi declarado culpado, esse Lula já de dava nojo faz tempo. Agora temos muitos outros pela frente. continuar lendo